quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Desrespeito à natureza


Desrespeito à natureza é uma das causas das cheias

Série revela que construções em leitos de rios, aterros irregulares e lixo acumulado afetaram o meio ambiente e colaboraram com as enchentes



As enchentes de junho na Mata Sul do Estado afetaram o meio ambiente em muitas áreas. A natureza respondeu com fúria às construções das casas no leito dos rios, aos aterros irregulares e ao lixo acumulado. Esse é o assunto da segunda reportagem da série sobre a reconstrução das cidades atingidas pelas enchentes.

A cheia mexeu com a geografia de Várzea do Una, onde o rio se encontra com o mar. As curvas desapareceram. Desesperados com o enorme volume de água que viram correr, os moradores abriram uma passagem do rio direto para dentro do mar. A natureza respondeu e formou um enorme banco de areia que atrapalha o próprio trabalho dos pescadores e onde se instalou o lixo que desceu das cidades.

O engenheiro e ambientalista Bertrando Bernardino estuda e tenta preservar o rio Una. Para isso criou um museu. Mas há coisas de que ele não pode cuidar no local. “O que pode melhorar a situação da bacia hidrográfica do rio Una é a não construção ou reconstrução de casas nas margens e dentro dos próprios rios e riachos. Todas essas casas que ficam dentro do rio e nas margens dos rios devem ser demolidas, porque estão em situação de risco”, disse.

Muitas estão sendo reformadas e ocupadas outra vez. Como está acontecendo em Barreiros, onde a água já mostrou que não poupa ninguém. Na cidade, o comércio também está voltando para lugares arriscados. É o caso de uma loja de bicicletas.

Carlos Alberto da Silva levou três meses até conseguir colocar a loja para funcionar outra vez. Ele teve que comprar todas as mercadorias de novo. Só que fez isso no mesmo lugar de antes. Exatamente onde o rio Carimã subiu, derrubando tudo.

O comerciante trabalha no local há 15 anos. “Eu me precavi. Eu não construí o prédio do tamanho que era. Eu recuei e diminui o tamanho dele, além de colocar uma estrutura mais forte. A de antes era fraca, já tinha seus 20 e tantos anos”, falou.

Tijolos e concreto da antiga loja de Carlos Alberto estão submersos em algum lugar. Os especialistas dizem que, em certos trechos, o rio Una está 50 metros mais raso por causa do que ficou depositado lá no fundo. É o que se chama de assoreamento.

A água também mostrou sua força em Cortês. Lá, foi o rio Sirinhaém. Quando ele subiu, cobrou espaço aos moradores que ocuparam as margens. Eles tiveram que sair, mas, assim que puderam, voltaram para casa, que já mostrou não ser o lugar ideal para morar.

O funcionário público Joselito José da Silva sabe disso. “Aqui era um braço do rio, mas com o tempo foram aterrando, aterrando e foram invadindo”, contou.

A enchente deste ano não foi a primeira. Pelo menos três outras levaram à discussão sobre a construção de barragens de contenção. Um dos debates teria sido há dois anos. “Se a reunião de 2008 tivesse tido algum encaminhamento das autoridades ou a atenção devida, provavelmente, poderia não evitar a enchente, mas os danos causados seriam bem menores”, falou Comitê da Bacia do Rio Uma, Alexandre Torres.


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